quarta-feira, 23 de abril de 2008

Klonen








Abbildung 1

sábado, 19 de abril de 2008

TREINO SHAMBHALA – PRIMEIRA PARTE
“A magia do cotidiano”
7. – 9.3.2008


MONOLOGO INTERIOR DUMA PRINCIPIANTE DA MEDITAÇÃO

SEXTA. 18h30

Um dia longo, estou cansada. Vou ? não vou ? Fico em casa, saio para ouvir música com amigos ou vou ao treino Shambhala ? Geralmente quando é dificil decidir-se por uma coisa, fica-se depois muito contente por se ter superado a preguiça. Então vou !

É a terceira vez que estou neste centro, jà é quase familiar. A entrada, o “bar”, a biblioteca no primeiro andar com essa foto carismática (não posso chamar-lhe de outra maneira ) de Chögyam Trungpa e depois as salas de meditação. Cada uma com o seu próprio carácter. A casa é antiga o que quer dizer que tem salas espaçosas, de mais de três metros de altura, as portas e as janelas de madeira pintada, tudo remodelada com gosto, tudo esteticamente harmonioso. Um ambiente muito agradável. Actualmente já sei que uma das habituais do centro é arquitecta e foi ela que desenhou os planos e dirigiu as obras de remodelação.
Fui recebida muito bem, com abraços e sorrisos, todos tratam-se por “tu” ( o que não é habitual quando se encontram pessoas que não se conhecem, de idades, profissões e origens diferentes)
E agora, entrar na sala maior, escolher um sitio.... de preferência na última fila: ao menos não há ninguém nas minhas costas ... A sala está cheia, cada pessoa instalada na sua almofada no chão, O ambiente é de curiosidade e expectativa. E... quem teria dito que a meditação tem também um aspecto estético?!... há muitíssimas mantas e cobertores de lã em todas as cores, todas bonitas. Na verdade, vão fazer falta porque a sala é grande e alta e provavelmente o orçamento não dá para excesso de aquecimento. De facto estou sentada ao lado duma janela e o radiador, ali, está apagado. Bom, até é agradável escondermo-nos numa manta, sempre dá um certo grau de segurança .


Começamos com uma palestra sobre os principios fundamentais. Óptimo, no mundo das palestras sinto-me segura, conheco os códigos de comportamento...

A META FUNDAMENTAL DE QUALQUER SER HUMANO É SER FELIZ E EVITAR O SOFRIMENTO Hmmmmm .......

AS ILUSÕES CRIAM O SOFRIMENTO: bem dito, mas quem me salva das minhas ilusões ? Pergunta idiota! Eu mesma naturalmente. Senão, quem ?

O CAMINHO PARA ACABAR COM AS ILUSÃES E CHEGAR À RELIDADE É A MEDITACÃO
A meditação serviria para compreender , ou melhor dito, sentir , que os pensamentos são só pensamentos e não realidades , que o cérebro pensa sem nunca parar , mas se conseguirmos compreender como funciona o nosso cérebro podemos chegar a frear o ritmo frenético do pensamento e aprender a ver a realidade por detrás das ilusões. Hmmm, mas isso não é a morte de toda a imaginação e creatividade ??? Bom, paciência, já vou descubrir.

QUANDO ENCARARMOS O MEDO, FUNDE COMO A NEVE AO SOL – É engraçado, as metáforas da neve são as mesmas no Tibete e na Áustria :-)

O MOMENTO DA FELICIDADE E DA LIBERDADE : QUANDO NÃO SENTIMOS SAUDADES DE NADA E ESTAMOS COMPLETAMENTE NO PRESENTE
Ah, pois isso sim que é o meu tema. Quem me dera nao sentir saudades. Em realidade estou aqui para me esquecer desse... STOP.

Esses momentos de felicidade e liberdade total, eu conheço: e quando se conseguir contemplar uma árvore, uma catarata, o mar, uma gota de água numa folha até nos esquecermos de nós mesmos e sentir-mo-nos uma parte de ... não sei ... talvez do universo. Sempre pensei que isso era uma vivencia estética e, de facto, faz muito pouco tempo que finalmente encontrei algumas pessoas que comprendiam o que estava a dizer ao falar desse tipo de vivências – e foram todos pintores !! Então pensei que precisava-se de um certo temperamento de artista para poder sentir essas coisas. Mas se for isso o caminho para chegar à sabedoria e à tranquilidade interior, então ando neste caminho há muitissimos anos ......

Das muitas coisas inteligentes que dizia o Carlos Manuel sem nunca realizá-las ele mesmo na sua propria vida, foi “procurar ambientes propicios à felicidade”. Pois é isso mesmo que estou a fazer.

Cheguei a casa tarde, mas curiosamente menos cansada


SÁBADO


Às 7h toca o despertador, tenho vontade de o deitar pela janela e dormir pelo menos 3 horas mais. Não sei porque é que, neste pais, todos gostam de seguir o ritmo biológico das galinhas .... O pior é no Inverno porque nos levantamos, de facto, de noite, quando nem sequer as galinhas estão despertas .... Vou dormir meia hora mais e depois tomo um táxi… ninguém disse ontem que a meditação só fazia efeito quando chegarmos ao centro a pé......

8h30: Recebemos um pequeno-almoço excelente feito por alguns membros do centro que lá apareceram muito cedo (parece que também há galinhas budistas)....



A MEDITACÃO NÃO TEM NADA DE MÍSTICO OU TRANSCENDENTAL, É UM TREINO DA MENTE PARA CONSEGUIR PRESENÇA E ATENÇÃO.

A meditação é, de facto, um exercício muito difícil. Ninguém, que ainda não tenha experimentado, acreditaria o difícil que é tentar disciplinar a sua mente a concentrar-se só no momento presente. A mente tem algo como uma reacção de pânico, em consequência da qual pode-se chorar ou rir. Não é preciso “nada mais” que “fazer voltar” a mente a pensar só na própria respiração e observar os numerosos pensamentos e emocões que aparecem ..... e aparecem muitos !!!

A NATUREZA ÍNTIMA DO CORAÇÃO HUMANO É A TRISTEZA: A FORÇA CONSISTE EM MANTER O CORAÇÃO ABERTO, AGUENTAR A TRISTEZA E TER COMPAIXÃO POR TODOS OS SERES . Programa muito exigente !Mas é verdade, não há nada mais vulnerável, e ao mesmo tempo mais forte, que um coração aberto...

PARA SE CONSEGUIR FELICIDADE É PRECISO FICAR EM CONTACTO PERMANENTE COM O PRÓPRIO CORAÇÃO. Pois que a psicologia diz a mesma coisa: o segredo da força não é levantar muralhas para se proteger, mas é ter suficiente coragem e auto-estima para se poder expor aos outros e ao mundo ....

Muitas vezes nao ficamos em comunicação com nós mesmos por causa de:
Falta de confiança --> categorizamos tudo e todos, fabricamos teorias , cultivamos arrogãncia e, de facto, lutamos contra nós mesmos.
A mente não é suficientemente forte para encarar a enorme intensidade do coracão --> não aceitamos partes de nós mesmos



E meditamos...... horas.
Nunca terei pensado que tivesse suficiente tranquilidade para ficar imóvel horas tentando não deixar escapar a mente para outros sitios. Mas, de facto, faz bem.

MEDITANDO REGULARMENTE CHEGA-SE DE MANEIRA INEVITÁVEL (inevitável, hmmmmm...) A DOMINAR A MENTE PARA CONSEGUIR

  • ESTABILIDADE (imagem da águia que voa, mas que nunca perde de vista o coelho. Imagem da presença e atenção total )
  • CLARIDADE E VITALIDADE (imagem da águia que vê até a cor dos olhos do coelho. Imagem da intensidade da percepção)
    E FORÇA ( sem a força da mente somos levados pela intensidade do coração, (pois disso sei algumas coisas !!)

    Depois falou-se dos obstáculos para chegar à tranquilidade da mente. Não os apontei porque os conheço e penso que vão aparecer como tema ainda em muitas sessões. Porque, na verdade, gosto tanto desta filosofia que vou fazer pelo menos os 5 primeiros treinos.
    A melhor frase do día foi:


NAO HÁ NADA PARA ANSIAR NEM PARA ESPERAR, TUDO ESTÁ AQUI


Também não se pode dizer que os “shambhalistas” não gozam dos prazeres da vida. O fundador do movimento, o Chögyam Trungpa foi uma figura multifacetada: ao lado de ser um importante lama tibetano, também foi artista (caligrafia, pintura, filmes, ikebana), psicólogo e não sei que mais … e por certo gozava de tudo o que este mundo oferece: nada de ascetismos.
A boa cozinha é parte integrante de tudo o que se faz neste centro. Para o almoço organizou-se um prato vegetariano dum restaurante índio, e depois de um dia longo, cheio, interessante, com muita energia, ainda integrámos a vida nocturna do sábado e fomos a un restaurante, impecável, no meio do “ Triângulo das Bermudas” que é uma das zonas de vida nocturna de Viena, que assim se chama porque dizem que muitas pessoas não apareceram mais. Nós, sim, que voltámos a aparecer, mas só depois de um jantar de primeiríssima qualidade, e de muito boa conversa e de muito riso.


DOMINGO

Depois de ficar na mesma posição muito tempo, qualquer movimento é bem-vindo. A tradição shambhala também criou uma forma de yoga, o Shamata-yoga. É, de facto, um tipo de resumo de várias formas de yoga, é curto, são apenas alguns exercicios, faz bem.

Chegou um momento, no domingo pela tarde, em que eu disse de mim para comigo “Ficaste maluca ?! O que é que estás a fazer aqui três dias, sentada e imóvel ou a andar lentamente de olhos fixos sempre no mesmo sítio sem fazer absolutamente nada ??!! Que a vida está fora desta sala ...... “ Mas, mesmo ao pensar isso, sentia-me muito bem e de facto não tinha nenhum “desejo de fuga”.


E depois houve a famosa questão do “ego”. Ainda nao consegui entender o conceito. Cada um tem uma definicão diferente e nenhuma aclarou-me nem minimamente. Os instructores sorriam e diziam “ vas ver que estas questões, com a experiência da meditação, tornam-se mais claras. A vivência não se explica, vive-se“

BOM, então até à próxima.... que o ego é o tema principal da segunda parte do “treino Shambhala”

Teoria da meditacao


A descoberta da bondade fundamental


Chögyam Trungpa


Grande parte do caos que existe no mundo deve-se ao fato de que as pessoas não se auto valorizam. Como jamais desenvolveram o sentimento de benevolência ou empatia por si mesmas, não conseguem experimentar o sentimento de paz ou harmonia interior, e por isso o que projetam para os demais é igualmente desarmônico e confuso. Em vez de valorizarmos a vida, freqüentemente julgamos nossa existência como algo garantido, algo que não exige maiores preocupações, ou a consideramos um fardo pesado e deprimente. É preciso levar a vida a sério, sem dúvida, mas isso não significa exasperar-se, chegar à beira da crise queixando-se dos problemas e alimentando rancor contra o mundo. Temos de aceitar a responsabilidade pessoal pela elevação de nossas vidas.



Quando uma pessoa não se condena, quando não se inflige punições, quando relaxa um pouco mais e valoriza seu corpo e sua mente, ela começa a ter contato com a noção básica de bondade fundamental existente nela. Por isso é extremamente importante a disposição para abrir-se a si mesmo. Cultivar ternura por nós mesmos permite-nos enxergar com clareza tanto os nossos problemas como as nossas potencialidades; não nos sentimos compelidos nem a fechar os olhos aos problemas, nem a exagerar nosso potencial. Esse tipo de carinho e auto-estima é indispensável. É o ponto de partida para nos ajudarmos e ajudarmos aos outros.



Como seres humanos, possuímos uma base de trabalho que nos permite elevar nossa condição existencial e nos tornar plenamente animados. Essa base de trabalho está sempre ao nosso alcance. Temos a mente e o corpo, e eles nos são muito preciosos. É por termos a mente e o corpo que somos capazes de compreender o mundo. A existência é maravilhosa, é algo precioso. Nenhum de nós sabe por quanto tempo viverá. Logo, enquanto estamos vivos, por que não usar a vida? Mais ainda, antes de usá-la, por que não lhe dar valor?



Como descobrir essa forma de apreço? Desejá-la na imaginação ou simplesmente falar sobre o assunto não ajuda. Na tradição de Shambhala, a disciplina para desenvolver tanto a auto-estima como o apreço pelo mundo é a prática de sentar-se em meditação. A prática da meditação foi ensinada pelo Buda há mais de 2.500 anos e desde então faz parte da tradição de Shambhala. Está baseada numa tradição oral: desde a época do Buda essa prática vem sendo transmitida de um ser humano a outro. Assim, manteve-se como tradição viva, de modo que, embora seja uma prática antiqüíssima, continua atual. Neste capítulo vamos abordar com algum detalhamento a prática da meditação, mas é importante lembrar que, para compreendê-la plenamente, é preciso receber orientação direta e individualizada.



Por meditação, entendemos aqui algo básico e muito simples, não vinculado a nenhuma cultura em particular. Estamos falando de um ato simplesmente fundamental: sentar no chão, adotar uma boa postura e cultivar o sentimento de termos um espaço próprio, de termos nosso lugar na terra. Esse é o meio de nos redescobrirmos e de redescobrirmos nossa bondade fundamental, o meio de entrarmos em sintonia com a genuína realidade, sem nenhuma expectativa, sem nenhum preconceito.



Às vezes a palavra meditação é empregada para designar a contemplação de determinado tema ou objeto: medita-se sobre isto ou aquilo. Meditando-se sobre uma questão ou sobre um problema, pode-se achar a solução para eles. A palavra também está ligada à busca de uma condição mental superior, através de algum tipo de estado de transe ou absorção. Mas aqui nós falamos de um conceito de meditação completamente diferente: a meditação incondicional, sem nenhum objeto ou idéia fixados na mente. Na tradição de Shambhala meditar é simplesmente treinar nosso ser para que a mente e o corpo possam estar sincronizados. Através da prática da meditação podemos aprender a ser absolutamente autênticos, sem dissimulação: podemos aprender a viver plenamente.



A vida é uma viagem sem ponto final; é uma grande rodovia que se estende infinitamente no horizonte. A prática da meditação fornece-nos um veículo para percorrer essa estrada. A viagem está cheia de altos e baixos, de esperança e medo, mas é uma boa jornada. A prática da meditação permite-nos vivenciar todas as texturas da estrada, e é justamente nisso que consiste a viagem. Com a prática da meditação começamos a descobrir que, afinal de contas, não há em nós nenhum motivo fundamental para nos queixarmos de coisa alguma.



Damos início à prática da meditação sentando-nos no chão com as pernas cruzadas. Simplesmente pelo fato de permanecermos ali, no instante presente, começamos a sentir que podemos moldar nossa vida e até torná-la maravilhosa. Percebemo-nos capazes de sentar como rei ou rainha num trono. A majestade dessa situação revela-nos a dignidade que há em sermos tranqüilos e simples.



Na prática da meditação uma postura reta é extremamente importante. Manter as costas eretas não é uma postura artificial. É a posição natural do corpo humano. O estranho é justamente o contrário. Uma postura descuidada, com ombros caídos e costas recurvas, impede-nos de respirar de forma adequada, além de ser um indício de que estamos começando a ceder à neurose. Assim, ao sentarmos eretos estamos proclamando — a nós mesmos e ao resto do mundo — nossa disposição para nos tornarmos guerreiros, seres plenamente humanos.
Para ter as costas eretas não é necessário fazer força e obrigar os ombros a se levantarem; a postura erguida vem naturalmente do ato de sentar com simplicidade, mas também com altivez, no chão ou numa almofada própria para meditar. Logo, se as costas estão retas, não sentimos nenhum vestígio de timidez ou constrangimento, e assim não há por que abaixarmos a cabeça. Não estamos nos curvando a nada. Por isso os ombros automaticamente se endireitam, e nossa percepção da cabeça e dos ombros começa a ficar mais aguçada. Podemos agora deixar que as pernas repousem naturalmente na posição cruzada; não é necessário que os joelhos toquem o chão. Completamos a postura apoiando levemente as palmas das mãos sobre as coxas, o que nos dá uma sensação ainda maior de estarmos assumindo de maneira adequada o nosso lugar.
Nessa postura o olhar não se perde em passeios a esmo. Temos a sensação plena de estarmos ali e não em outro lugar. Os olhos permanecem abertos, mas o olhar se inclina ligeiramente e estanca a cerca de dois metros diante de nós. Não vagueia de um lado para o outro, o que fortalece a sensação de algo deliberado e bem-definido. Essa postura real pode ser encontrada em posturas egípcias e sul-americanas, assim como em estátuas orientais. Trata-se de uma postura universal, não específica de nenhuma cultura ou época.



No dia-a-dia também devemos estar atentos à postura, à posição dos ombros e da cabeça, ao modo de andar, de olhar para as pessoas. Mesmo quando não estamos meditando podemos dignificar nossa existência. Podemos superar o constrangimento e ter orgulho de sermos seres humanos. Esse orgulho é aceitável e bom.



Assim, na prática da meditação, sentando-nos com uma boa postura ficamos atentos à respiração. Ao respirar, estamos inteiramente ali, verdadeiramente ali. Com a expiração nós saímos de nós mesmos, nosso fôlego se dissolve e logo em seguida a inspiração naturalmente acontece. Então saímos outra vez. Ocorre assim um constante "ir embora" com a expiração. Ao expirar nós nos dissolvemos, nos difundimos. Logo depois a inspiração se produz, naturalmente; não precisamos tomar conta. Simplesmente voltamos à postura — e estamos prontos para mais uma expiração. Sair e dissolver-se: chuuu...; em seguida, voltar à postura; logo depois, chuuu..., e voltar à postura.
Haverá então um inevitável clique! — um pensamento. Nesse instante nós dizemos: "Pensando". Dizemos mentalmente, não em voz alta: "Pensando". Rotular assim os pensamentos é uma poderosa alavanca para retornarmos à respiração. Quando um pensamento nos afasta por completo do que estamos realmente fazendo — quando já não percebemos que estamos sentados numa almofada, mas nos vemos em Nova York ou San Francisco —, nós dizemos: "Pensando", e assim nos trazemos de volta à respiração.
O tipo de pensamento na verdade não faz diferença. Na prática da meditação sentada todos os pensamentos, sejam eles escabrosos ou benfazejos, são vistos simplesmente como pensamentos. Não são nem virtuosos nem pecaminosos. Pode-se pensar em assassinar o próprio pai ou ter vontade de fazer uma limonada e comer biscoitos. Por favor, não nos escandalizemos com nenhum pensamento que tivermos: qualquer pensamento é apenas pensamento. Nenhum deles merece nem uma medalha de ouro nem uma repreensão. Limitemo-nos a aplicar-lhes o rótulo — "Pensando" — e voltemos à respiração. "Pensando", e voltemos à respiração.



A prática da meditação é muito precisa. Deve acertar exatamente no alvo. É um trabalho bastante árduo; porém, se nos lembrarmos da importância da postura, isso levará à sincronização entre a mente e o corpo. Sem uma boa postura, a prática será semelhante ao esforço de um cavalo manco para puxar uma carroça: nunca funcionará. Assim, primeiro é preciso sentar e assumir uma boa postura. Em seguida, tem início o trabalho com a respiração: chuuu..., sair, voltar à postura; chuu..., voltar à postura; chuuu... Quando surge um pensamento, nós lhe aplicamos o rótulo — "Pensando" — e voltamos à postura, voltamos à respiração. A mente trabalha em conjunto com a respiração, mas o corpo se mantém sempre como ponto de referência. Não trabalhamos apenas com a mente. Trabalhamos com a mente e o corpo, e quando ambos trabalham juntos, nunca abandonamos a realidade.



O estado ideal de tranqüilidade provém da vivência da sincronização entre o corpo e a mente. Se o corpo e a mente não estão sincronizados, o corpo perde vigor... e a mente se perde por um caminho qualquer. É como um tambor malfeito: o couro não está ajustado à armação, logo, ou a armação se quebrará ou o couro acabará cedendo. A tensão entre eles nunca se mantém constante. Quando a mente e o corpo estão sincronizados, então, graças à boa postura, a respiração se produz naturalmente. E como a respiração e a postura trabalham juntas, a mente dispõe de um ponto de referência para orientar-se. Como conseqüência, a mente pode sair naturalmente com a exalação.



Esse método de sincronização entre a mente e o corpo nos ensina a ser muito simples e a sentir que não somos nada especiais — somos seres comuns, extraordinariamente comuns. Nós apenas nos sentamos, como guerreiros, e desse ato nasce um senso de dignidade pessoal. Estamos sentados na terra — e percebemos que essa terra nos merece e que nós merecemos essa terra. Estamos aqui — pessoalmente, com plenitude e autenticidade. Na tradição de Shambhala, portanto, a prática da meditação é indicada para educar as pessoas a serem honestas e autênticas, fiéis a si mesmas.



Em certo sentido, deveríamos ter a sensação de carregar um grande fardo: o fardo de ajudar o mundo. Não podemos nos esquivar a essa responsabilidade para com os outros. Porém, se assumimos esse fardo como um prazer, podemos realmente liberar o mundo. O meio é este: começar por nós mesmos. Sendo abertos e honestos em relação a nós mesmos, podemos aprender a ser abertos também para com os outros. Desse modo, partindo da bondade que descobrimos em nós, podemos trabalhar com o resto do mundo. Por esse motivo, a prática da meditação é vista como um bom meio — aliás, um excelente meio — de vencer a guerra no mundo: nossa guerra pessoal e as guerras em maior escala.


Chögyam Trungpa Rinpoche,


Shambhala: a trilha sagrada do guerreiro.

sábado, 12 de abril de 2008

burn out



Extracto de
Alfried Längle “Wenn der Sinn zur Frage wird”
Vortrag im Wiener Rathaus April 2000
“Quando surge a questão da definição existencial”


O idealismo perdido

A substituição silenciosa do idealismo juvenil por uma vida caseira sufocante, pela concentração em dinheiro e carreira, é um problema frequente, especialmente dos jovens adultos. Para a geração de 68, a revolução foi uma salvação: finalmente se tinha recuperado um ideal, uma orientação global, um grande sistema de valores em que se estava integrado e pelo qual era possível definir-se novamente. Do ponto de vista da psicologia isso é naturalmente um fenómeno que aparece em qualquer movimento de grupos ou massas.


Não e fácil falar desta silenciosa miséria interior. No concernente a outros problemas a pessoa com quem se partilha a vida, o companheiro, a companheira pode estar envolvida, mas este sofrimento e pessoal e tem que ser encarado absolutamente sozinho. Ninguém o nota , ninguém tematiza o problema, nem tão pouco o aborda, ninguém fala duma propria vivencia dolorosa parecido.

Assim, esse sofrimento vive-se como falha própria, como própria insuficiência. A pessoa fica envergonhada e não fala com ninguém. E como o problema não é visível e a pessoa afectada não tem objectivamente nenhum motivo para queixar-se, fica completamente isolada. A situação agrava-se ainda pelo facto de que uma pessoa que vive nesta insegurança precisar de admiração para se consolar e para equilibrar o seu vazio interior e a sua perda de auto-estima; facto que dificulta ainda mais encontrar a coragem para poder falar abertamente da sua situação interior.





















Der verlorene Idealismus

Der stillschweigende Ersatz des jugendlichen Idealismus durch eine kleinliche Häuslichkeit, durch Konzentration auf Einkommen und Karriere ist ein häufiges Problem, besonders der jungen Erwachsenen. Für die 68-er Generation war die Revolution eine Erlösung. Endlich hatte man wieder ein Ideal, eine globale Ausrichtung, einen großen Zusammenhang, in dem man integriert war und durch den man sich neu definieren konnte. Psychologisch gesehen findet sich dieses Motiv natürlich bei allen Gruppenphänomenen oder Massenbewegungen.
Es ist nicht leicht, über diese stille, innere Not zu sprechen. Bei anderen Problemen ist vielleicht der Partner noch irgendwie mitbeteiligt, aber dieses innere persönliche Leid fällt zur Gänze auf einen selbst zurück. Niemand bemerkt sie von außen, niemand spricht einen darauf an, niemand spricht von einer ähnlichen eigenen Not
So wird sie als rein selbstverschuldetes Versagen empfunden. Man schämt sich dafür und hat eine Scheu mit anderen Menschen darüber zu sprechen. Da einem das Problem nicht angesehen wird und man nach außen hin auch keinen Grund zur Klage hat, ist man völlig isoliert. Erschwert wird die Lage noch dadurch dass man in dieser Unsicherheit Bewunderung braucht als Trost und Ausgleich für die innere Leere und den eigenen Achtungsverlust. Das macht die Schwelle für ein offenes Gespräch noch höher.

domingo, 6 de abril de 2008

Shambala1

INTRODUCAO

Naturalmente para criar um blog e depois apresentar os nossos pensamentos e talvez até sentimentos a qualquer pessoa que tiver interesse em lê-los precisa-se duma certa dose de exibicionismo. Numa sociedade globalizada e virtual em que a autenticidade das vivências é cada vez mais substituída por uma vida emocional de segunda mão baseada na imprensa sensacionalista VIP, telenovelas etc., qualquer vivência autêntica é um tesouro a proteger. Então porquê esse blog? La sei! Mas existe..
O propósito desse diário é juntar três dos muitos " campos de interesse" da minha vida: escrever, aprender português e aproximar-me dos pensamentos budistas e da prática da meditação. Vamos ver o resultado do projecto. Na tradição Zen o resultado dos esforços duma pessoa pouco importa, o que importa é o caminho, mas em realidade nada importa, a pessoa como ego pessoal não existe.... E naturalmente fazer um blog é prova da existência dum ego pronunciado. Bom, enfim, ainda tenho direito a contradições e o zen provavelmente não é exactamente o meu caminho.

Antes de esquecer: agradeço ao meu amigo virtual Spielenschach as suas correcções do meu português ainda muito rudimentar






PRIMEIRA APROXIMAÇÃO - 22.12.2007

Fui com muita cautela sabendo exactamente o que não quería mas sem ideias muito concretas acerca do que sim queria: satisfazer curiosidade, aprender algo novo, conocer a pessoas com quem compartilhar uma certa ideia de espiritualidade ...... De qualquer forma antes de me arriscar num mundo completamente desconhecido queria primero ver algunas pessoas practicantes.

Era 2 dias antes de Natal e aqueles budistas festejaban o solsticio de inverno com um "dia das crianças" em que os meninos representariam uma peça de teatro intitulada "Liana procura a luz". Uma ocasão sem compromisso para dar uma olhada tanto curiosa como cuidadosa.

O centro Shambhala situando-se numa parte muito animada da cidade caminava-se por um gigante mercado de Natal num ambiente alegre, colorido e muito consumista. Cheguei a porta do centro. Tera sido uma loja porque ainda tem umas vitrinas grandes que permitem ver o que se passa no res-do chão. Parecia uma mixtura entre um salão e um café. Muita gente, um vestuario com casacos, botas, zapatos, luvas, sacos com pacotes para o Natal, uma cozinha onde se preparava um bufé com os pratos que muitos tinham trazido, muitas crianças em disfarces, e por todos lados ceramica com arranjes de flores espectaculares, um caos muito simpatico e acolhedor.




A peça de teatro era uma alegoria do caminho da vida, e as crianças divertiam-se, o público também. Quando os actores não sabíam os textos todos ajudavam. O ambiente era relajado, alegre, com muito sentido de humor, mas notava-se tambem que aquela gente tinha solidas conviccões, só sem nenhum fanatismo.





Depois inaugurou-se o bufé e tive a oportunidade de conhecer a muitos destos "shambhalistas". (O “caminho Shambhala” é uma aproximaçao ao budismo criada por Chögyam Trungpa Rimpoche, um lama tibeto que estudou e viviu em America e Inglaterra.) Os “adeptos” que conheci eram todos pessoas vivendo neste mundo, integrados na sociedade, a grande majoria com carrerras universitarias. Em nada se parecia isso a uma reunião duma secta ou dum mais o menos oscuro grupo esoterico.
O que mais gostei foi o sentido de humor. Falou-se por exemplo de que se tinha que ter pensado em decorar a estatua do Budha na vitrina em Pae Natal....

IMPRESSÕES:
Uma criança - sem querer- tinha tirado no chão uma destas jarras espectaculares e ficou todo em cacos. A criança chorava, mas treinta segundos depois la havia alguem para consola-la. O pai da menina apareciou com uma escova, outra pessoa limpou a agua e numa velocidade impressionante todo estava arranjado sem nenhuma emoção negativa

Tinha apreciado muito um certo doce que havía no bufe. Quando fui a despedir-me um homen que nem tinha conhecido deu-me um pacote dizendo "gostaste muito destos doces, pois leva os que ficaram". Gesto carinhoso com uma pessoa desconhecida.

Resumindo: a primera aproximação mais social que espiritual e mais de curiosidade que de conviccão revelou-se extremamente positiva. Fui-me de alí com bons sentimentos, muitos livros e uma inscrição para o proximo fim de semana de introduccão a meditação.

A SEGUIR