segunda-feira, 7 de julho de 2008

Lição practica de não-violencia

Há duas ou tres semanas estive numa festa do centro Shambhala. Bom ambiente, divertida, pessoas interessantes, dessas com as quais podes tanto filosofar sobre o sentido da vida como rir da piada mais simples. Um jardim bonito, boa comida, em suma, tudo perfeito ........




A lição que me impressionou foi a seguinte. Um dos convidados jogava com um grupo de crianças. Não sei como começou o jogo mas quando eu fiquei atenta, sob o meu ponto de vista a situação já tinha descarrilado. O homem estava deitado no chão e as crianças sentadas em cima a gritar e a bater nele, e a coloca-lhe terra e erva em cima da cabeça...

E batiam forte e gritavam “só tens que dizer que abandonas e paramos”. E ele dizia “não abandono nunca” mas não respondia a violencia de nenhuma maneira. Havía muitos adultos a olhar mas ninguem interferiu, só uma pessoa lhe perguntou se precisava de ajuda, e ele disse que não.

Eu, no momento não compreendia a situãção. Achava-a muito curiosa, mas como havia muitas pessoas a verem o que se passava e sou nova nesse grupo limitei-me a observar.




Bastante tempo depois as crianças abandonaram a guerra e desapareciam nalgum cantinho do jardim, o homem levantou-se e então alguém lhe perguntou porque tinha feito aquilo e ele disse “espera um pouco“. E, para a minha grandissima sorpresa, pouco depois as crianças apareceram mão na mão para pedir desculpas sem que ninguem tivesse dito nada.

E mas tarde o homen comentou que talvez tivessem compreendido a lição que nunca se deve abandonar uma causa justa nem perante a violencia e depois riu-se e comentou que para a proxima lição arranjaria um colchão ou pelo menos um cobertor porque o chão era muito duro.

Fiquei pensativa a admirar tanto a filosofia não violenta como a motivação pedagogica deste homen, as crianças nem eram suas. Provavelmente consideram que todos os adultos tem a responsabilidade para com todas as crianças o que decerto é muito verdadeiro.

E a noite terminou com muita luz, tao real como metaforica.


20 comentários:

prafrente disse...

compreendo a força da mensagem mas penso que, do ponto de vista psicológico, o método não terá sido o melhor.

"persona",como tu escreveste é latim.A palavra correcta é "PESSOA"

Myriade disse...

Ah sim, o método é pelo menos original e naturalmente discutivel. Mas a experiencia foi forte para todos.
Obrigada pela "pessoa" E exactamente assim como pretendo que funcione este blog: cada um corrige um pouco, nao é muito trabalho e eu practico :-)

poetaeusou . . . disse...

*
luz da luz . . .
,
valha-me isso . . .
,
conchinhas,
,
*

luis lourenço disse...

O método funcionou...a brincadeira
das crianças é inocente...mas a conversa entre elas a posteriori desencadeou possivelmente a consciênca reactiva da moralidade? Seria necessário repetir várias vezes a experiência com outras crianças na mesma faixa etária? Psicológica e pedagogicamente pode ser uma boa exploração...

:)

mdsol disse...

Então aí vai: surpresa!
Achei interessante o que nos contas. Afinal os caminhos educativos são, na maior parte das vezes, desconhecidos. Possivelmente a "esperiência" funcionou nesse micro-contexto.
É um prazer receber a tua visita lá no branco no branco e um prazer vir aqui ao teu "Wolkengedankes" (como se traduz para português?
:))

mdsol disse...

EXPERIÊNCIA

(desculpa). É suposto eu não dar erros em Português!
:)

Luna disse...

Todo o nosso comportamento com as crianças deveria ser pedagógico, quando se ensinam brincadeiras, quando de contam historias, tudo isso é como um aprendizado para o futuro
Pena que tenhamos actualmente tão pouco tempo para as crianças
Deixei no meu cantinho, resposta ao teu comentário
beijinhos

Myriade disse...

Ola Veu !
A consciencia reactiva da moralidade é o acto de consciencia que é provocada em determinadas situacoes pela compreensao da situacao spb um ponto de vista moral ?
O que foi desencadeado por esse "licao" quem pode saber ? Tambem nao se ouviu a conversa das criancas, mas penso que esso nao foi uma licao isolada mas uma entre muitas no contexto particular do budismo. Eu só fiz o primeiro paso neste mundo faz apenas 6 meses e ainda nao estou familiarizada por exemplo com os seus conceitos pedagogicos.Mas há dois aspectos de "ideiologia" que gosto muito:
1. o respeito verdadeiramente incondicional de qualquer ser humana na sua forma de ser que seja o que for
2. o conceito de reponsabilidade completa de cada um pelos proprios actos. responsabilidade nao culpabilidade !!!
cumprimentos :-)

Myriade disse...

Ola Sol !

Quando tiver aprendido mais sobre os conceitos pedagogicos budistas vou informar os blogistas portugueses que queram ou nao !! :=)

Eu visito o "branco no branco" porque gosto !"Wolkengedanken" traduzido ao portugues significa "pensamentos de nuvens" ou "pensamentos nas nuvens" ou "pensamentos em nuvens" ou "pensamentos sobre nuvens" .......:-) A ideia é que se trata de esse tipo de pensamentos que surgem inesperadamente em momentos que nao estamos muito concentrados, pensamentos criativos ou pouco convencionais, pensamentos que muitas vezes nao sao deste mundo, pensamentos sobre coisas que consideramos nao realizaveis........

Agradeco a tua consciencia linguistica que se extende até ao campo dos acentos :=)Mas como teras visto eu ainda estou a lutar com as estructuras fundamentais do portugues e a tentar expressar coisas complexas com um vocabulario basico. Os acentos .... pffff ficam para mais tarde

um beijinho

Myriade disse...

Ola multiolhares !

Concordo contigo que o que ensinamos as criancas é fundamental mas penso que educamos sobre tudo com o exemplo... ensinar uma coisa e fazer outra nunca da resultados positivos. Nao sei se em portugues tambem existe a frase cinica "faz o que digo, nao facas o que eu faco"

um beijinho e um pensamento saudadoso por essa costa tao bonita onde vives.

mdsol disse...

Tu escreves muito bem português. Parabéns por isso.
E percebes muito de pessoas.... ou não tinhas percebido, em tão pouco tempo, que os meus "posts" são ...isso mesmo...lampejos. Não são pensados no sentido tradicional de pensar. São uma necessidade do momento, que sai sem eu saber como. Estou comovida porque aí de tão longe me entendeste tão bem.
Até te vou mandar um beijo. O que não é um costume meu.
Um beijo
:)

Myriade disse...

Outro beijo para ti !
Sabes em alemao existe uma frase que disse "um lobo reconhece a outro lobo". A minha experiencia é que há pessoas que sintem nao so o desejo mas a necessidade imperiosa de se expressar em palavras, gestos, imagens, musica ......e quando pelo motivo que seja nao tiverem nenhuma possibilidade de o fazer sao desgracadas. Quando num blogue se nota a personalidade detras, o gosto da expressao, de jogar com as palavras, o prazer de combinar uma imagen com um texto, com uma musica, o talento de ver detalhes que outros nao vem, pois para mim e obvio que vejo um irmao ou uma irma que tambem gosta e precissa as vezes de "navegar pelas nuvens", de deixar para um tempo o mundo intelectual e racional para ver um lampego de algo mais completo .......

Mr. Lynch disse...

Wolkengedanken;
Sou um grande admirador dos activistas da não-violência. Já li muito sobre Gandhi e concordo com a filosofia satyagraha. Porém, penso que não podemos confundir não-agressão com passividade total que, pelo teu relato, foi o que parece ter acontecido. Eu teria concordado com o acredido se ele tivesse falado com as crianças e exposto o seu ponto de vista. Penso que aí sim, ele teria agido de forma certa.
Ainda assim, uma excelente lição de civismo.
:)

Anônimo disse...

Salvé!

Não violência começa do coração das crianças como em tosos os adultos...só que alguns deixam-selevar pelas vinanças e pelo outro lado negro. Acham mais apelativo...daí que as crianças devem ser sempre bem conduzidas e nunambiente de amor - que não amor mental!
Frase de Ghandy que sempre evidencio é: "NO PRINCÍPIO IGNORAM-TE, DEPOIS RIEM-SE DE TI, A SEGUIR COMBATEM-TE...É ENTÃO AÍ QUE OS/AS VENCES" - não retaliar, não ripostar...tal qual o significado de "OFERECER A OUTRA FACE"!

E quanto ao seu último comentário há uma frase espiritual que diz: "UMA ALMA RECONHECE SEMPRE OUTRA ALMA"!

Mariz

Que bom viver na Áustria...
como artista que sou/fui, goatava de viver aí...mas o frio....

fique bem

ESPAVO! - reconhecendo a LUZ que há em si - como em MU

Myriade disse...

Boa noite mr Lynch !
Entao como é que um pacifista elcolheu um nomen tao agressivo :=)

Myriade disse...

Ola Mariz !
Obrigada pela visita de mais uma pessoa pacifista.
Ghandi é porcerto um exemplo para seguir, mas temo que os "mortais normais" nao cheguemos na sua altura.E a pensar na situacao em grande parte do mundo nao é por falta de oportunidades !

E verdade que se vive muito bem em Viena e que pelos artistas sobre tudo os musicos é uma Meca. E o frio .....e muito relativo. Eu sempre passo muitissimo frio em Portugal porque nao há aquecimento nas casas nos restaurantes, nos museos ..... e na Austria em inverno está frio fora mas nao dentro :=)

Agora vou visitar o seu blogue

Anônimo disse...

Olá de novo!

Peço desculpa por todas as gralhas existentes no comentário anterior, mas como não tenho paciência para após escrever....ler tudo de novo e rever certas palavras, depois dá nessa amálgama de letras confusas. O meu teclado falha-me e eu escrevo depressa demais - coisas do passado profissional.
fica aqui o reparo.

Grata pela visita

Mariz

almariada disse...

Acho que o acontecimento deve ter sido expontâneo e não um método pedagógico...! ;)

Não foram só as crianças que aprenderam alguma coisa, o senhor que brincava com elas também aprendeu, e as pessoas todas que estavam presentes e nós todos que lemos este post... ;)

Os acontecimentos são como pedrinhas na água: fazem círculos de ondas que se alargam... alargam...

Só estive uma vez em Viena de Áustria e fiquei surpreendida com a quantidade de artistas que estavam na rua a fazer tantas coisas diferentes!

Até conheci o único aborígene australiano que conheci até hoje: estava a tocar didgiridoo (não sei se é assim que se escreve...) e no fim disse-nos que dava aulas de digiridoo a mulheres de Viena! :) Nunca mais me esqueci dele! Era um jovem muito simpático! E, ao contrário do que eu li em artigos etnográficos ele disse que tradicionalmente eram as mulheres que tocavam didgiridoo. Eu acreditei mais nele do que nos etnógrafos! ;)

Obrigada pela partilha!

Myriade disse...

Ola Almariada ! eu tambem nao fazo ideia como se escreve o didgeridoo.só sei o que é :-) Mas provavelmente nao existe instrumento de musica que nao se pode aprender a tocar em Viena. Interessante que é um instrumento reservado ou a homens ou a mulheres ( ??). Interessa-te a etnologia em geral ou os aborigenes da Australia ?

um excelente dia :-)

almariada disse...

interessam-me os aborígenes porque vivem tão longe e sei tão pouco, mas interessa-me a etnologia, sim, a antropologia, as filosofias, as religiões... :)

é por isso que fico almariada... ;)

costumo pensar que sou "xenófila" ;)

tudo bom para ti!

aqui está muito calor e aí em Viena? lembro-me que quando estive aí vi uma senhora de uns sessenta ou mais anos a andar de bicicleta em bikini!