O seguinte comentario do LuCe e uma propria vivencia sao o motivo deste post:
Primeiro o comentario:
LuCe hat gesagt...
Com alguns anos de prática intermitente de meditação e/ou ioga consigo perceber muitas das coisas. Neste momento estou sem fazer nenhuma das coisas regularmente (e devia fazê-lo com regularidade).Algumas experiências na meditação podem ser maravilhosas, mas também assustadoras. "Here open the gates of Heaven, here open the gates of Hell" - são exactamente as mesmas portas.Muitas vezes parece-me que quem chega a determinadas experiências, já não pode voltar atrás. Quanto mais resiste, mais duros são os testes que à frente lhe aparecem.
Concordo plenamente, as portas do paraiso e do inferno sao as mesmas. Segundo a filosofia budista é absolutamente logico porque o paraiso e o inferno só existem nas nossas mentes.
Levo só 5 meses a praticar meditacao com alguma regularidade. No principio foi tudo bonito e facil. Dava-me mais concentracao e calma, conheci a pessoas que aprecio muito porque sao autenticos e vivem as suas conviccoes.
Actualmente estou a estudar Lojong e a pratica de Tonglen. Nao vou dar largas explicacoes porque sao coias que é preciso experientar. Só o basico:
A filosofia budista dice que existem tres venenos :
a cobica (querer ter mais, e mais e mais, ter a impressao de precisar encontrar uma solucao, tudo tipo de adiccoes )
a agressao (violencia, raiva, odio, negatividade de tudo tipo e uma larga lista de irritaoes)
e a ignorancia.
Bom, até aqui nao é complicado
Agora a practica Tonglen afirma que nem se deve reprimir estas emocoes, nem se deve distrair-se delas (concentrando-se noutra coisa, conversando, lendo, ouvindo musica etc....) nem se deve reagir ( gritar, agredir, culpar outras pessoas, revivendo e analizando x vezes a mesma cena ...... ) O que é preciso fazer é deixar existir a emocao, até entrar nela no maximo e tentar transforma-la em energia positiva. E desta maneira - segundo a teoria - algun dia chegariamos a nos libertar do sofrimento.
Practico isso já algum tempo todos os dias e vivo que a practica é extremamente dificil, desconcertante e dolorosa. Comeca-se como qualquer meditacao deixando passar os pensamentos sem reflectir e depois entrando no primeiro "veneno" que aparece. Pois ontem, cheguei nas portas do inferno, foi uma emocao gigante que me inundiou de tristeza, de ansiedade, de soledao ..... quase nao aguentei ficar sentada e nao fazer nada. Senti-me como sozinha no espaco sem ar nem terra e nada e ninguem para se agarrar.
E segundo a practica Tonglen é bom e inevitavel passar por esse sentimento horrivel porque é o primeiro passo para se libertar do sofrimento.
Eu, de qualquer maneira estava sentada as 11 da noite a beira dum lago muito bonito com um panorama de montanhas fantastico a chorar como uma crianca abandonada. E senti-me exactamente assim, como uma crianca abandonada. Existem os telemoveis e pensei um momento ligar para alguiem que conhece esta experiencia. Mas nao fiz, decidi ir mais longe, Foi duro, duro, duro. Nao fiz nada para tentar distrair-me deste sentimento de soledao completa. Quem nao experimentou nao pode compreender como é sentir-se tudo aberta sem proteccao nenhuma emfrente de tudo o universo .... Mais depois durante um momento , só um momento, as portas do paraiso estavam abertas e senti o espaco e a liberdade e senti-me uma parte do universo sem ansiedade nenhuma e sem a necesidade de me agarrar a alguem porque tinha a forca de encarar a vida sem armacao nem mascara.
Nao, nao estava bebeda ou numa viagem de LSD ou algo parecido e hesito muito em publicar este texto porque para alguem que nao practica meditacao pode parecer muito estranho, mas finalmente porque nao, foi uma vivencia absolutamente autentica .....
Concordo com LuCe que nao se pode voltar atrás, más a verdade tambem nao queria. A luz é muito tentadora ....
Jardins de longe
Há 6 dias
15 comentários:
Muito obrigada!!!!!
Só me resta mandar-te uma grande grande abraço.
:)
Muito obrigada pela sinceridade, pela coragem de se abrir assim! É bom saber que não somos só nós que sentimos estas "coisas" (?). Nunca pratiquei meditação com orientação mas, como passo muito tempo sozinha e sempre me lembro de ser introspectiva, sei muito bem do que fala, muito, muito bem.
Luce também me tem feito companhia no blog! :)
E ontem pensei muito em si por causa da troca de mensagens sobre a raça e o império. Estava a ler uma revista e encontrei um texto que tinha tudo a ver com isso! Então pensei publicá-lo no blog, especialmente para si. O que estive a fazer agora. Entretanto houve qualquer problema no blog e apenas ficou o que lá está agora apesar de eu ter copiado muito mais e ter escrito o nome da revista de onde tirei o texto e tudo... agora não consigo por lá mais nada... talvez não seja necessário...
Acho maravilhoso este diálogo entre blogs...
Ola Sol e Almariada !
Custou-me alguma coragem publicar isto porque a minha cultura nao é muito propicia para o tipo de comunicacao que o budismo chama " de corazao a corazao". Mas há já alguns anos que decidi nao preocupar-me pela opiniao dos outros e fazer o primeiro passo para esse tipo de comunicacao. E os resultados sao muito convincentes. Tenho hoje um tipo de relacao de amizade de corazao a corazao com pessoas com que comnicava exclusivamente a nivel do intelecto, e apareceram muitas pessoas mais e notei que existe em todos nos mais o menos escondido um profundo desejo de comunicar abertamente. Practico o mesmo de forma um pouco mais fechada com os meus estudantes e o resultado é uma vida profissional extremamente agradavel. E depois do primeiro passo é facil. Bom, quase sempre :-) Entao o que tao bem funciona pessoalmente porque nao pode funcionar tambem por internet ?
um abraco para as duas
Sabes, estou há uma semana a começar a recuperar (pelo menos, espero estar efectivamente a recuperar) da maior crise por que alguma vez passei na vida. A expressão que melhor me definia era "helpless child". Vi-me, de repente, com todos os medos de criança e nada nem ninguém me podia ajudar.
Depois de anos com "resultados", a meditação voltou a ser ineficaz e, neste momento, sinto-me apenas a tentar resolver as pequenas coisas da vida, saber lidar com situações do dia-a-dia, com contrariedades, com planos desfeitos. E acabei por tornar-me budista zen, depois de muitos contactos durante 4 anos com uma Ordem.
Qian Zi
Olá
A humanidade tem um objectivo comum, mas diferentes caminhos para o alcançar.Qual é o melhor caminho?É aquele com que cada um se identifica melhor. Com o qual sente um maior conforto emocional...Não há ABSOLUTOS.Nem no Budismo, nem no Cristianismo, nem em religião alguma. Mesmo no caminho da meditação não existem métodos ABSOLUTOS...É preciso prestar uma atenção especial ás nossas manifestações exteriores.Para não confundir uma ligeira crise existencial com graves transtornos psiquiátricos que não se resolvem únicamente com a meditação.
Quanto ao teu comentário no meu blogue achei muito interessante a designação de "Homo Ecologicus Bellicus".O vosso método de "perseguir" aqueles que poluem a natureza merece o meu aplauso.Nós portugueses ainda estamos embebidos duma mentalidade que vai continuar a manter-nos como o país mais "atrasado" da Europa.
Beijinhos de Portugal
Vim aqui expressamente para te agradecer os comentários que deixaste lá hoje no meu "cantinho"! É tão curioso como tu me "entendes"! Tens de ter uma alma grande, um coração nobre, uma inteligência aguda e muita disponibilidade para os outros! Ainda bem que te encontrei nestes caminhos da blogosfera.
:)))))
Ola !
Concordo plenamente contigo que nao há absolutos nem em religioes nem em filosofias. Se o budismo é uma religiao ???? Para mim é uma filosofia e um caminho, nem mais nem menos.
A meditacao nao é uma terapia nem para crises existenciais nem para trastornos neuroticos e uma forma (claro, entre outras) para entrar em comunicacao comsigo mesmo com a finalidade de conseguir mais autenticidade e mais felicidade.
A meditacao a serio nao teem nada a ver com exaltacoes esotericas. E uma practica de tradicao milenaria que no fundo nao esta ligada a nenhuma reigiao mas que existe em varias e tambem fora das religioes.
Cada um tem o seu caminho, claro. Eu pessoalmente detesto os fanatismos de todo tipo. Mas tambem é evidente que cada um está convencido do seu caminho senao faria outra coisa :)
Com o tempo que passo a meditar para fazer os meus trabalhos de mestrado, não há tempo para outras coisas mais transcendentais...
Beijos
Ah Sol, obrigadissima por tanto elogio, fico mesmo emocionada. Eu tambem gosto muito de comunicar contigo. Sera que funcionamos na mesma onda !Nao entendo muito de fisicas mas alguma coisa de relacoes humanas e estou convencida que existe a comunicacao "pela mesma onda" e é um grande prazer de se sentir compreendida ...... Nao é algo do que todos andamos a procura ?
muito boa noite !!!!
prafrente: como distinguir entre crises existenciais e problemas psiquiátricos? Quem não vive de acordo com a mentalidade dominante não é considerado por um psiquiatra como alguém que sofre de distúrbios psiquiátricos graves? Nos dias de hoje, WB Yeats e William Blake seriam considerados esquizofrénicos.
Uma crise da "anima" ou "animus", ou dos dois em simultâneo, não será hoje considerado um distúrbio mental grave?
Muita gente que praticou Kundalini Ioga e "acordou a serpente" é considerada doente mental. E no entanto, abriram os olhos.
Há uma diferença qualitativa importante entre os planos físico e metafísico, apesar de um poder afectar o outro.
Só para dizer que há coisas que estão para lá do domínio das crises existenciais (sendo, na verdade, crises ontológicas) e dos distúrbios psiquiátricos.
Luce: Animo ! As crises resolvam-se e algumas vezes dao a oportunidade de mudar posicoes e comportamentos e depois de um tempo ficamos melhor que antes. Claro, nao todas as crises podem ser utilizadas como processo de aprendizagem e alem disso essa forma de aprender é dificil e dolorosa. Mas enfim temos que encarar as situacoes que a vida nos "oferece" da melhor forma possivel. Depois de uma grande crise lidar com o dia-o-dia já pode ser um grande progresso e uma base para seguir....
Li algumas coisas sobre o Zen e achei muito interessante, mas penso que é uma practica que precisa de dedicacao exclusiva que eu nao poderia nem queria integrar na minha vida. Mas admiro quem consigue ......
um excelente dia :)
Ola professorinha !
Pois na vida há tempo para todo. "há um tempo para nacer e um tempo para morrer, um tempo para amar e um tempo para odiar, um tempo para semear e um tempo para recolher " .... e um tempo para fazer trabalhos de mestrado. E uma citacao da biblia mas nao me lembro de onde. Se alguem sabe, agradeceria a informacao.
Setembro ainda está longe ! Boas ferias para nos todos e todas :))
Wolkengedanken: estou com ânimo :)
Há vários caminhos para o Zen, várias práticas diferentes adequadas a diferentes pessoas. Mas cada um, claro, escolhe o caminho que mais se adequa :)
Um óptimo fim-de-semana :)
Olá Wolkengedanken !
Só hoje li este teu post (decidi-me a percorrer o teu blog quando percebi que o meu mail nào me avisa -- ao contrário do que acontece com outros bloguistas -- sobre se tenho respostas tuas ou não, deve ser da diferença dos suportes dos nossos blogs )e, por isso, só hoje te comento.
Acho muito correcta a tua abordagem da meditação e do tonglen
(sobre o lodjong não me atrevo a falar...). Pelo que me toca, "tomei
refúgio" em 2000(até tenho um nome tibetano,só não costumo é comemorar o aniversário do meu "novo nascimento"...) depois de vários meses de meditação sozinho e em grupo, e em 2001, em Karma Ling, com o mesmo Lama-raiz, fiz os votos de "bodhisattva".E participei já em vários seminários sobre o budismo tibetano,além de, no meu grupo, ter sido encarregado
dos ensinamentos durante um certo período. De modo que não me são estranhas as experiências de que falas tão bem.Deve ser por isso que sinto uma grande afinidade contigo.
Já vou muito longo, mas aproveito ainda para te dizer (li a tua resposta ao meu comentário sobre a Karin Wall)que embora a minha "identidade profissional" seja a de sociólogo, deixei de me considerar como tal desde que me tornei transdisciplinar a sério.
Muitos :))))))))))))))Zé-Carlos
Ola Zé-Carlos !
Fico encantada de ver que tu andas no budismo a serio assim podemos trocar experiencias :)
Eu sou uma principiante, mas noto que "o caminho dos guerreiros" está a tornar- se mais e mais importante na minha vida. Em setembro vou fazer a terceira parte dos seminarios de Shambhala e - agora que tenho ferias e estou em Viena - vou duas vezes por semana no centro para meditar duas horas e depois festejar duas mais porque é um grupo fantasticamente serio e fantasticamente algre ao mesmo tempo. E dos aspectos que me atraiam no principio - esta figura de Chögyam Trungpa que ao lado de ser um lama tibeto foi tambem psicologo, artista, amante do mundo e da boa vida e uma pessoa com muitissimo sentido de humor. E achei inmensamente atractiva uma filosofia profunda, um caminho dificil mais muito prometedor e onde ainda por cima cabe tambem um lado "bom-vivant" e muito humor.
Pesquisanso na internet encontrei um centro Shambhala no Brazil que tem basicamente o mesmo programa que o nosso de Viena. E acho uma grande pena que nao exista nenhum em Lisboa. Quando comprar a minha residencia secundaria em Portugal vou-me dedicar a fundar um centro destos. Que te parece o projecto ? Gostarias de colabora :))(e uma ideia meio a serio)
um abrazo :)
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